Carta a um Aprendiz de Filósofo

Se estou interessado em cavalos ou pedras preciosas, não posso exigir que os outros partilhem deste interesse. Se me sento em frente à televisão, encantado com todos os programas desportivos, tenho de aceitar que outros possam achar o desporto aborrecido.
Haverá alguma coisa que interesse a toda a gente? Haverá alguma coisa que diz respeito a todas as pessoas, independentemente do sítio do mundo onde vivem? Sim, cara Sofia, há questões que dizem respeito a todos os homens. E neste curso trata-se precisamente dessas questões.
Qual a coisa mais importante na vida? Se o perguntarmos a alguém num país com problema da fome, a resposta é: a comida. Se pusermos esta questão a alguém que esteja com frio, neste caso a resposta é: o calor. E se perguntarmos a uma pessoa que se sinta muito sozinha, a resposta será certamente: a companhia de outras pessoas.
Mas admitindo que todas estas necessidades estão satisfeitas - será que resta alguma coisa de que todos os homens precisam? Os filósofos acham que sim. Segundo eles, o homem não vive apenas de pão. É evidente que todos os homens precisam de comer. Todos precisam de amor e de atenção, mas há algo mais de que todos os homens precisam. Precisamos de descobrir que somos e porque é que vivemos.
Interessarmo-nos pela razão da nossa existência não é um interesse ocasional, como o interesse de coleccionar selos. Quem se interessa por tais problemas preocupa-se com tudo aquilo que os homens discutem desde que apareceram neste planeta. A questão acerca da origem do universo, do globo terrestre e da vida, é mais vasta e mais importante do que saber quem ganhou mais medalhas de ouro nos últimos Jogos Olímpicos.
J. Gaarder, O Mundo de Sofia, Lisboa, Ed. Presença, 1995, pp. 17 - 18
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